Mais chuva, galerias entupidas, bombas danificadas: o que provocou novas inundações em Porto Alegre
24/05/2024
(Foto: Reprodução) Nível do Guaíba, quantidade de chuva, galerias entupidas e limitação das casas de bombeamento estão entre as causas. Veja o que levou de novo ao alagamento da Capital do Rio Grande do Sul. Bueiro transborda em Porto Alegre
O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da prefeitura de Porto Alegre afirma que "não houve colapso" do sistema de drenagem da cidade após bairros da Capital terem alagado durante a chuva de quinta-feira (24). Então, o que provocou as inundações que pegaram a população de surpresa, exigindo resgates de bote, bloqueio de ruas e causando prejuízos?
Quantidade de chuva
Galerias entupidas
Limitação das casas de bombeamento
Onde Porto Alegre está falhando?
O que pode acontecer a partir de agora?
Quantidade de chuva
Galerias Relacionadas
Nunca choveu tanto em Porto Alegre como em maio de 2024. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o volume de chuva em 15 horas ultrapassou os 100 milímetros na Zona Sul da Capital.
"O que a gente observou foi um volume expressivo de chuva dentro da cidade de Porto Alegre. Isso causou esses alagamentos pontuais que aconteceriam de qualquer forma, mas esse volume teve muita dificuldade de escoar por suas vias naturais, por toda a lama, os resíduos sólidos que foram trazidos durante a inundação causada pelo Guaíba", conta Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH).
Maiores volumes de chuva mensais já registrados em Porto Alegre (1916 a 2024)
477,2 mm maio 2024 (medição provisória até as 22h de 23/5/24)
447,3 mm setembro 2023
405,5 mm maio 1941
403,6 mm junho 1944
386,6 mm abril 1941
365,6 mm junho 1982
Galerias entupidas
Bueiro transborda na Zona Norte de Porto Alegre
Fabiana Lemos/RBS TV
O diretor do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Porto Alegre, Maurício Loss, alega que os alagamentos aconteceram porque, além da quantidade de chuva, galerias para escoamento da água estão entupidas por causa do barro e do lixo acumulados após a cheia do Guaíba. Com isso, a água que deveria ser escoada sem alagar as ruas acabou jorrando pelos bueiros, causando inundações.
"As redes de drenagem também estão bem assoreadas (com acúmulo de sedimentos, como terra, areia e lixo). [Além disso], todos os arroios que desembocam no Guaíba não estão conseguindo ter vazão em razão da elevação do nível. Isso prejudica o escoamento da água das chuvas e alguns bairros da Zona Sul que não estavam alagados tiveram problemas com a chuva", diz Loss.
Segundo Loss, equipes do DMAE trabalham com caminhões-jato para fazer a limpeza dos locais atingidos e facilitar a drenagem da água acumulada na cidade.
Limitação das casas de bombeamento
Equipamentos no interior de uma casa de bombas em Porto Alegre
Cesar Lopes/PMPA
Outro problema apontado por Loss são as restrições no funcionamento de casas de bombeamento – apenas 10 das 23 estações estão funcionando. Elas são responsáveis por jogar a água que está dentro da cidade de volta para o Guaíba.
As restrições ocorrem porque as casas de bombeamento são elétricas e, se inundarem, podem colocar em risco a segurança da população.
O professor Paiva não tem dúvidas de que, se as casas de bombas estivessem funcionando, o impacto da chuva teria sido menor.
"Se todas as bombas estivessem funcionando, a situação seria melhor. Mas não resolveria. De qualquer forma, foi uma precipitação muito elevada. Mesmo que ela tivesse acontecido em outro ano. Há uma precipitação dessa magnitude atingindo uma cidade como Porto Alegre, que é muito impermeabilizada, tem muito asfalto, por exemplo. Essa água não infiltra no solo. Então, naturalmente, ela vai ficar na superfície. A gente tem que trabalhar a nossa cidade para ela ser mais verde, ter mais áreas que retenham a água no solo. Agora, nunca se desejou tanto que o nível do Guaíba chegasse a 3 metros, que é a cota de inundação", diz Paiva.
Onde Porto Alegre está falhando?
População improvisa moradias debaixo da ponte após enchentes no RS
RBS TV/Reprodução
No entendimento de pesquisadores do IPH, Porto Alegre deve fazer melhorias no sistema anticheias, um investimento que pode chegar até R$ 400 milhões.
"A questão das comportas. Ficar atento para uma necessidade de fechamento devido a uma possível subida do nível do Guaíba", diz Paiva.
Outro ponto é o monitoramento das áreas de risco. Pessoas que residem na Região das Ilhas precisaram improvisar moradias em barracas, carros e embaixo de ponte – e se disseram desassistidas pela prefeitura.
"Não é porque em um dia a água já retornou que já pode começar imediatamente a ocupar aquela área novamente”, questiona Paiva.
Por fim, a limpeza das galerias para escoamento da água. Animais mortos, lixo e esgoto ficaram para trás após a água recuar das ruas da Capital.
"A questão da limpeza? Fazer uma limpeza de toda essa drenagem imediatamente, assim que é possível, e reestabelecer as bombas”, explica Paiva.
O que pode acontecer a partir de agora?
Segundo o IPH, a previsão de mais chuva deve "continuar mantendo a tensão". Além disso, mais água deve chegar ao Guaíba devido ao acúmulo do que caiu sobre outras bacias.
"A gente espera ainda um pouco mais de volume de chuva. E, além disso, essa chuva foi elevada no interior do estado, pegando partes da bacia do Guaíba. Então, é esperado que esse volume de água que caiu no interior do estado, no final de semana, chegue na região de Porto Alegre, ele vai contribuir para elevar um pouco o nível do Guaíba", prevê.
Outra situação que mantém a condição de alerta é o vento.
"A gente tem o início de um vento sul mais forte. Mas um repique igual ao da terça-feira passada, de 5,20 metros ou 5,30, isso eu acho que é pouco provável e com as previsões do momento", explica.
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